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ZEZIN - geometria popular


A arte está sempre a revelar surpresas, já que a criatividade humana não tem limites. Ela brota naturalmente como a nascente de um rio, sem que nem sempre haja a necessidade de um pensamento e de um raciocínio no momento da criação. 

Desde os tempos remotos o ser humano tem o poder de transformar a matéria bruta em obras de arte e de culto. Nas sociedades tribais a madeira já servia de elemento para a expressão de um sentimento e a construção de uma ideia, utilizadas em esculturas para uso em cerimônias com função espiritual para controle das forças do bem e do mal. 

No século XX, os artistas passaram a buscar novas formas de expressão que viessem a desafiar, ao invés de simplesmente ilustrar, já que as técnicas tradicionais realistas pareciam sobrecarregadas. As novas perspectivas propiciaram a fertilização de ideias e estilos que constituem o mundo de hoje. 

O poder expressivo da arte tribal foi fundamental para o desenvolvimento dos estilos modernistas. Picasso e André Derain buscaram nas máscaras africanas esculpidas em madeira as linhas e contornos de suas obras cubistas. O neo expressionista alemão Georg Baselitz deu o seu toque de provocações ao talhar em tronco de madeira desafiadoras e monumentais figuras humanas. 

Nesse contexto surge o artista mineiro Zezin, que, desde cedo conviveu com a madeira na atividade de marceneiro fabricando móveis rústicos. Somando a isso, o ambiente familiar na infância muito contribuiu para a estruturação das obras que viria a produzir nos dias de hoje. Sua família era proprietária de um parque itinerante, ou melhor, de um grupo mambembe no eixo Minas, Espírito Santo e Distrito Federal. Assim, aquele universo de cores e fantasias, roletas e brinquedos esteve sempre presente em sua memória. 

No momento em que ele decide esculpir imagens de santos, naturalmente que o colorido vivenciado quando criança serviria de elemento à finalização da obra. Nesse período, o artista produz uma pequena série de peças de cunho religioso. 

O excesso de carga emocional nele depositada não o satisfazia, nem o continha como santeiro. Era preciso algo mais para extravasar suas emoções. De repente, com precisão e maestria, Zezin passa a cortar pequenos blocos de madeira, com acentuada policromia, até atingir instigantes esculturas geométricas de maior porte. Esta obra difere da escultura geométrica pensada como construção, próxima da arquitetura. No caso, a geometria popular, segundo afirmação do artista plástico e pesquisador José Alberto Nemer, apreciador do artista. 

Em detida análise, muitas dessas esculturas contém inconscientes mensagens a a princípio não palpáveis, contribuindo a cor como complemento àquilo que se pretende exprimir. O verde como pujança das florestas, o vermelho como sangramento das matas e o preto ou mesmo a braúna crua como a queimada. Nesse caso, as formas geométricas criadas por Zezin serviriam como meio de atingir uma transcendência ou uma realidade não observável. 


Paralelamente às ideias concretas desenvolvidas por Franz Weissmann e por Amilcar de Castro e ligadas à exploração do espaço, aos contrastes entre cheios e vazios e à transposição do quadrado à terceira dimensão, pode-se dizer que Minas possui hoje como inovação um geométrico popular.

TADEU BANDEIRA

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